Mais lidos

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

  Certo dia, quando chegava a minha casa avistei uma das janelas abertas. Quando entrei, encontrei folhas de um caderno velho rasuradas. Precisava compartilhar o que li.
  Todo o desespero iniciado por um simples pensamento inocente. Uma brincadeira onde entramos com a mente fechada e saímos com a alma ferida.

  Há cerca de cinco dias atrás minha percepção sobre o mundo e a vida mudara radicalmente. Dezembro se aproximava e as aulas chegavam ao fim. Como de costume, programávamo-nos para as comemorações de fim do ano letivo. Dessa vez a festança fora confirmada em minha casa. Meus pais viajariam e eu estaria sozinho.

  O dia, 07 de Dezembro. Foi quando tudo começou.

  Mais ou menos às sete da noite, Jorge, meu melhor amigo, chegara a minha casa com alguns DVDs, bebidas e uma caixa, que quando especulado sobre, simplesmente ignorara. Jorge ajudara a preparar a festinha de nosso grupo. Após algum tempo, Tamara chegava trazendo uma torta que preparara. Por fim, Jonas e Ana.


  Primeiramente tudo ocorreu como planejado. Lá para o meio da noite, Jorge chamara a atenção de todos e perguntara se já havíamos ouvido sobre o Tabuleiro Ouija. Ana fora a primeira a reagir. Dizia que não queria ouvir falar sobre isso. Jonas, seu namorado, perguntara a Jorge sobre o tal Tabuleiro. Quando ouvira sobre, nascera instantaneamente um grande interesse. Jonas perdera seu pai recentemente e buscava muito esse tipo de coisa. Jorge me convencera no ato. “Por que não?”. Não acreditava que isso me afetaria de alguma forma. Estava errado.

  Após tentativas falhas de convencer Ana a participar da brincadeira, iniciamos todos os procedimentos. Colocamos o tabuleiro em uma mesinha de centro e nos sentamos a sua volta. O tabuleiro apresentava letras, números, alguns símbolos e duas letras entalhadas nas extremidades.

  Um pequeno copo de vidro foi posicionado ao centro do Tabuleiro visivelmente muito velho. Muito gasto. Os quatro dedos sobre o fundo do copo. As faces de cada um dos quatro eram iluminadas por duas velas alocadas nas extremidades da mesa. Após suspiros descrentes dos amigos, Jorge começara a falar lenta e misteriosamente. Perguntava sobre presenças de entidades que

  uma vez já pertenceram a esse plano. Por um momento o copo permanecera inerte. De repente, moveu-se até a letra S entalhada próxima ao limite do Tabuleiro. Um sorriso de canto de boca nascera no rosto de cada um dos que rodeavam a mesa. Mais perguntas nasciam e a cada palavra dita, o copo se movia com mais precisão. É claro que todos imaginavam que Jorge já se acostumara com a farsa, mas a surpresa veio ao fim. Quando, juntos, retiramos nossos dedos do fundo do copo virado, ele trincou ao meio. Ao esquivo, minha nuca se arrepiara. Uma sensação peculiarmente assustadora. Como se mais alguém nos assistia de muito perto. Calamo-nos e encaramos o copo rachado. Jonas fora o primeiro a reagir. Acendera as luzes e nos fizera despertar. Jorge guardara o Tabuleiro e jogara o copo do outro lado da rua. Tamara fora a mais abatida. Em estado de choque, não dissera uma palavra até ir embora. Ana chorava, mas logo Jonas a acalmara. A noite se encerrara ali. Tamara, Jonas e Ana foram para suas casas. Jorge ficara para dormir em minha casa.

  Não conversamos absolutamente nada sobre o acontecido. Evitamos ao máximo o acontecido. Após a saída dos três, terminamos de organizar as coisas e logo nos deitamos. Não sei se de fato Jorge chegara a dormir, mas sei que se assustara tanto quanto eu quando o telefone tocara durante a madrugada. Posso ter me assustado com o copo rachado ou com o telefone, mas nenhuma sensação drenara-me com tanta intensidade quanto a que senti enquanto a voz do outro lado da linha dizia-me que Tamara fora encontrada morta em seu quarto.

Continua...

Copyright © Isso dá Medo - KYLE